“Um tesouro a descobrir”. A oração do rosário (terço)
Não me move a intenção de fazer uma história do Rosário (ou do Terço) nem um tratado teológico e/ou pastoral acerca desta oração tão difundida e praticada na vida da Igreja. Pretendo apenas chamar a atenção para a sua importância e refletir um pouco sobre a sua estrutura e sentido, a fim de fazer dela uma oração mais autêntica e proveitosa para o Povo de Deus.
Se é verdade que foram muitos os Papas que deram uma particular atenção ao Rosário e à sua importância na vida da Igreja, em geral, e na vida dos cristãos, em particular, é em afirmações dos três últimos que me detenho para sublinhar a sua importância: “O Terço é a minha oração predileta. A todos, exorto, cordialmente, que o rezem” (João Paulo II); “É a mensagem que a Virgem deixou em suas diferentes aparições. Penso, em particular, nas de Fátima, ocorridas há 90 anos, aos três pastorinhos, Lúcia, Jacinta e Francisco, nas quais se apresentou como ‘a Virgem do Rosário’, recomendou com insistência a oração do Rosário todos os dias, para alcançar o fim da guerra” (Bento XVI); “O Terço é a oração que sempre acompanha a minha vida; é também a oração dos simples e dos santos… é a oração do meu coração” (Papa Francisco).
Segundo uma tradição muito antiga, o Rosário foi promovido e divulgado por S. Domingos de Gusmão, que nasceu em Caleruega, província de Burgos e diocese de Osma (Espanha), a 24 de Junho de 1170, e morreu em Bolonha (Itália), a 6 de Agosto de 1221. Consta que, para combater a heresia dos cátaros, caminhava pela Europa, rezando o Rosário. Na sequência do mestre, foram os dominicanos os seus grandes promotores, mas não únicos, ao longo da história.
A falta de formação e o analfabetismo do povo simples levou a que se propusesse o Rosário como oração daqueles que não tinham acesso à leitura e meditação dos Salmos. Apostando em fórmulas simples e no método da repetição, depressa se tornou o Breviário dos simples e humildes.
Chamou-se-lhe Rosário, considerando que cada Avé Maria é uma rosa que se entrega à Mãe de Jesus. O nome adequa-se claramente às suas 150 Avé Marias, correspondendo aos 150 Salmos da Bíblia. Como o próprio nome sugere, o Terço é a terça parte do Rosário. Ao acrescentar-lhe os mistérios luminosos, o Papa João Paulo II, fez deles a quarta parte do Rosário.
A oração do Pai-Nosso “torna a meditação do mistério, mesmo quando é feita a sós, uma experiência eclesial” (João Paulo II, O Rosário da Virgem Maria, nº 32) e as dez “Avé Marias”, recordando as palavras do Anjo Gabriel e de Isabel, são o elemento “mais encorpado do Rosário e também o que faz dele uma oração mariana por excelência” (João Paulo II, O Rosário da VirgemMaria, nº 33). O Glória ao Pai no fim de cada mistério faz com que o Rosário não seja uma oração apenas mariana, mas também trinitária (Por Maria à Trindade).
A cada grupo de dez Avé Marias chama-se-lhe “mistério”, porque no início se enuncia um dos acontecimentos mais marcantes da revelação de Deus aos homens em Jesus Cristo, a quem aparece associada Maria, sua Mãe. A meditação passa pelos mistérios da alegria, da dor, da glória e da luz. É esta enunciação que faz dele um caminho de contemplação e o “compêndio do evangelho”.
O Terço (50 Avé Marias), assim chamado por constituir uma terça parte do Rosário, é, entre todas, a oração não litúrgica que mais se difundiu entre os cristãos. Como afirma João Paulo II, “uma oração tão fácil e ao mesmo tempo tão rica merece verdadeiramente ser descoberta de novo pela comunidade cristã” (João Paulo II, O Rosário da Virgem Maria, nº 43).
Pela sua simplicidade e riqueza, não duvido que continuará a nortear a vida de piedade de uma boa parte dos cristãos deste III milénio.
Pe. João Alberto Sousa Correia