DESAFIOS ACTUAIS COLOCADOS AO CARMELO
“Seduzi-la-ei e levá-la-ei ao deserto” (Os 2, 16)
Fr. Günter Benker, O. Carm.
A luta / procura da nossa identidade como Carmelitas
No excelente retiro que John Welch, O. Carm., da Província do Puríssimo Coração de Maria, dirigiu ao Capítulo Geral em 2001 afirmava que: “A tradição carmelita pode ser entendida como um comentário de oitocentos anos ao Cântico dos Cânticos. Esta antiga história de amor da literatura hebraica é uma narração simples que fundamenta e capta a experiência de numerosíssimos carmelitas. «A voz do meu amado! Ei-lo que chega, correndo pelos montes, saltando sobre as colinas» (Ct 2, 8). Pensando que procuravam um Deus difícil de se deixar encontrar, voltavam da sua busca com a convicção de que tinha sido o próprio Deus que, com eterno amor, saíra ao seu encontro ao longo de todo o caminho. A ânsia profunda do coração do carmelita revelou-se, deste modo, como sinal de um convite: «Levanta-te, minha amada, e vem, ó minha bela amada!» (Ct 2, 10).
Os escritores carmelitas recorreram frequentemente à apaixonante história de amor do Cântico dos Cânticos para encontrar as palavras que pudessem expressar esta experiência... Os versos do Cântico aparecem, consciente ou inconscientemente, na literatura carmelita. Os carmelitas contam muitas histórias, mas de entre elas, aparece repetidamente a história da amada que espera incansavelmente a chegada do Amado. A união no amor e a retirada para a solidão das pastagens no cimo do monte encontram a sua expressão equivalente na literatura carmelita. João da Cruz encontrou nas palavras de Oseias um eco da sua própria experiência: «Por isso, vou seduzi-la; levá-la-ei ao deserto e falar-lhe-ei ao seu coração» (Os 2, 16)”.
Gostaria de desenvolver a minha reflexão partindo deste texto profético que João da Cruz cita no Cântico Espiritual. Para nós carmelitas como “filhos de Elias”, toda a tradição bíblica é muito significativa. Inclusivamente consideramos que ser profeta é um elemento importante da nossa vocação carmelita. Escutemos este texto do profeta Oseias, citado por João da Cruz, para vermos o que nos pode dizer na nossa situação actual:
“Protestai contra a vossa mãe, protestai. Ela não é mais a minha mulher, nem Eu sou mais o seu marido. Afaste da sua face as prostituições e os adultérios de entre os seus seios, senão, deixá-la-ei toda nua, como no dia do seu nascimento; torná-la-ei um deserto, como terra árida, e farei que pereça de sede. Não terei compaixão dos seus filhos, pois são filhos de prostituição. A sua mãe prostituiu-se, desonrou-se aquela que os concebeu. Ela disse: «Correrei atrás dos meus amantes, que me dão o meu pão e a minha água, a minha lã e o meu linho, o meu azeite e a minha bebida». Por isso, Eu fecharei o seu caminho com espinhos; erguerei uma sebe em seu redor, para que ela não encontre atalhos. Ela perseguirá os seus amantes, mas não os alcançará; procurá-los-á mas não os encontrará. Então, ela dirá: «Voltarei ao meu primeiro marido, porque eu era outrora mais feliz do que agora». Mas não reconheceu que era Eu quem lhe dava o trigo, o vinho e o azeite, e lhe prodigalizava a prata e o ouro que iam gastar com Baal. Por isso, retomarei o meu trigo a seu tempo, e o meu vinho na estação adequada; retirarei a minha lã e o meu linho, com que cobria a sua nudez. Vou descobrir a sua vergonha diante dos seus amantes; ninguém a livrará da minha mão. Porei fim aos seus divertimentos, às suas festas, às suas festas da Lua-nova, aos seus sábados e a todas as suas solenidades. Devastarei as suas vinhas e as suas figueiras, das quais ela dizia: «Esta é a minha paga, que me deram os meus amantes». Mas hei-de transformá-las num matagal, e serão devoradas pelos animais selvagens. Hei-de pedir-lhe contas pelos dias de Baal, quando queimava incenso a esses ídolos, de colares e anéis ataviada, a cortejar os seus amantes, enquanto de mim se esquecia – oráculo do Senhor. É assim que a vou seduzir: ao deserto a conduzirei, para lhe falar ao coração. Dar-lhe-ei então as suas vinhas e o Vale de Acor será como porta de esperança. Aí, ela responderá como no tempo da sua juventude, como nos dias em que subiu da terra do Egipto. Naquele dia – oráculo do Senhor – ela me chamará: «Meu marido» e nunca mais: «Meu Baal». Tirarei da sua boca os nomes de Baal, de modo que tais nomes não voltem a ser recordados. Farei em favor dela, naquele dia, uma aliança com os animais selvagens, com as aves do céu e com os répteis da terra; farei desaparecer da terra o arco, a espada e a guerra, e farei com que eles repousem em segurança. Então, te desposarei para sempre; desposar-te-ei conforme a justiça e o direito, com amor e misericórdia. Desposar-te-ei com fidelidade, e tu conhecerás o Senhor. Naquele dia – oráculo do Senhor – Eu responderei aos céus, e os céus responderão à terra; a terra responderá com o trigo, o vinho e o azeite, e estes responderão a Jezrael. Eu a farei, para mim, uma terra bem semeada, terei compaixão de Lô-Ruhamá e direi a Lô-Ami: «Tu és o meu povo»; e ele me responderá: «Tu és o meu Deus.»” (Os 2, 4-25).
Os profetas sempre aparecem e são suscitados por Deus em tempos de crise, decadência e confusão. Surgem em momentos em que o povo abandonou o Deus vivo e verdadeiro, o Deus da vida e do amor para seguir os seus próprios planos, criando os seus próprios ídolos como o poder e o materialismo ou qualquer outra forma que possam tomar. Os falsos deuses fabricados conduzem, em última análise, os seus seguidores à escravidão e à alienação, frente a Yahvé, a si mesmos e aos outros. Oseias viu, precisamente, no não reconhecimento do único Deus, o principal problema de Israel, com a consequente decadência do Reino do Norte e a sua posterior queda, no ano 722-721 a.C., quando a Samaria foi conquistada e o povo foi para o exílio. Como o Cântico dos Cânticos, Oseias descreve a relação entre Deus e o seu povo de uma forma mística: como uma íntima relação de amor. Contudo, Israel afastou-se de Deus seguindo os seus próprios caminhos, adorando Baal e por isso, cometeu o adultério espiritual.
É possível relacionar este texto com a situação da nossa Ordem, aqui e agora, no presente? Creio que vale a pena tentar fazê-lo. Podemos claramente afirmar que a Ordem experimenta um período de crise e de decadência, especialmente na Europa – ainda que não só nestas latitudes. Confrontamo-nos com numerosas dificuldades humanas, limitações, e pobrezas nas nossas comunidades, assim como um declínio constante nos números, devido à falta de vocações. Vemo-nos obrigados a desprender-nos de edifícios, comunidades e actividades de que nos sentíamos orgulhosos e a que estávamos bastante ligados, porque engordavam os nossos “ganhos” ou o nosso prestígio. E parece que esta situação gloriosa ficou para trás (cf. Os 2, 6). É claro que há muitos e variados factores externos – muito complexos – que influíram no desenvolvimento da nossa sociedade moderna e post-moderna, assim como no amplo contexto da Igreja. Mas existem também factores internos com os quais temos que nos confrontar de uma forma honesta e corajosa. Estar em crise é um desafio e uma oportunidade. Por conseguinte, não temos que entrar numa espécie de paralisia, caindo na tentação da resignação e do desânimo. Tampouco nos ajuda pretender tirar importância aos problemas, tapando-os com o activismo ou com uma felicidade superficial, que maquilhe a nossa situação. Tampouco ajuda agarrar-nos simplesmente ao “sempre fizemos assim”, aceitando, deste modo, unicamente, o status quo. Podemos confiar na mensagem dos profetas. Toda a tradição bíblica e, especialmente, o testemunho do próprio Jesus, insistem em que Deus pode tirar vida do caos e da morte. Mas só o pode fazer se deixarmos que Ele nos purifique, purifique dos nossos próprios planos e caminhos, dos nossos falsos deuses e dos nossos conceitos equivocados. É por isso que Deus nos “corta o passo”, “nos encurrala”, “encerra-nos” e “conduz-nos ao deserto” a uma “terra ressequida” (cf. Os 2, 3.6) para “seduzir-nos” (Os 2, 14) e atrair-nos, de modo que descubramos que Ele quer inflamar-nos com o Seu amor, para que possamos compartilhá-lo com os outros. A nossa experiência de decadência e de crise é um convite da parte Deus para voltarmos ao essencial da nossa vida religiosa, ao coração e ao centro da nossa vocação como carmelitas. Nunca será possível esta conversão sem a honesta e sincera vontade de questionar os nossos critérios e prévias estratégias. O processo de purificação e renovação que nos conduz a uma nova vida incluiu necessariamente o reconhecimento de como no passado criámos os nossos próprios ídolos e falsos deuses (cf. Os 2, 8.13), ainda que às vezes possam parecer que sejam “maravilhosos” e inclusivamente muito “pios” e “devotos”: as nossas actividades sociais, pastorais ou apostólicas, como por exemplo paróquias e escolas, inclusivamente formas de oração, certos modos de celebrar a Eucaristia, atitudes clericais, uma dependência demasiadamente íntima dos privilégios institucionais da Igreja, do Estado e da Sociedade (“o salário dos amantes” (cf. Os 2, 12). Quer dizer, sendo honestos connosco mesmos, identificar qualquer ídolo que tenhamos, à luz da escuta dos profetas, do Evangelho ou dos textos místicos da nossa tradição. Pessoalmente vivo com a esperança que o nosso deserto florescerá e que a nossa crise dará fruto, se de verdade estivermos dispostos a soltar-nos das nossas seguranças herdadas, ou auto-fabricadas, para nos centrarmos no verdadeiro chamamento que Deus nos confiou como carmelitas. Na verdade, se queremos sobreviver creio que não temos outra alternativa: só podemos ser úteis ao Reino de Deus se ocuparmos o lugar que Deus nos atribuiu. Temos necessidade de nos “despirmos” e “ficarmos nus” (cf. Os 2, 2), vender tudo para recuperar a pérola preciosa, o tesouro mais importante da nossa identidade e beleza carmelita.
Mas, qual é a parte central, o núcleo mais profundo da nossa vocação carmelita? Não só é expresso nas nossas Constituições e na Ratio como também o é em toda a nossa tradição espiritual, que é uma história mística de amor ou, como indicou maravilhosamente John Welch, um comentário de 800 anos ao Cântico dos Cânticos. No deserto da nossa presente crise, necessitamos de redescobrir como Deus nos seduz (cf. Os 2, 14-23) para dar prioridade à dimensão místico-contemplativa da nossa vida, de modo que Deus juntamente connosco, possa acrescentar um novo capítulo a esta história de amor de 800 anos da espiritualidade carmelita, entrando em união com Deus, que não é senão amor. Só então seremos luminosas testemunhas para muitos dos nossos contemporâneos na sua fome e procura de Deus. Na minha opinião, isto não é só um desafio para os carmelitas do hemisfério ocidental, mas para toda a Ordem. Ter muitas vocações, em algumas partes do mundo, não é o único e, talvez, o critério mais válido de autenticidade, pois poderá haver outras razões (pois, no fim de contas, o crescimento só é sustentável e duradouro se existir um claro conhecimento e actualização mais profunda da nossa identidade, da nossa vocação místico-contemplativa).
Para aprofundar esta ideia e para que não penseis que isto é só uma obsessão pessoal, desejaria apresentar-vos algumas citações um pouco mais longas de dois destacados carmelitas do século passado, o Beato Tito Brandsma e Kilian Healy, que foi Prior Geral da Ordem por ocasião do Concílio Vaticano II. Os dois descrevem muito claramente o coração da nossa vocação, assim como o desafio que temos que enfrentar se não quisermos ficar bloqueados no deserto.
Em primeiro lugar, quero comentar as palavras do Beato Tito Brandsma, que em 1936 dirigiu-se aos carmelitas dos Estados Unidos e do Canadá numa série de conferências:
“É característico da Ordem do Carmo, apesar de ser uma Ordem mendicante, de vida activa e que vive no meio do povo, conservar uma grande estima pela solidão e o desapego do mundo, considerando a solidão e a contemplação como o melhor da sua vida espiritual...
Certamente que podemos afirmar que as Ordens contemplativas sempre encontraram sérias dificuldades na vida de oração. O Carmelo, no entanto, sempre foi testemunha da preeminência da contemplação. Inevitavelmente, em quase todas as circunstâncias da vida moderna, o apostolado activo nos reclama cada vez mais a atenção no Carmelo e é, então, quando os carmelitas... devem enraizar profundamente qualquer actividade na «contemplação», vista para eles ser a única fonte e garantia de fecundidade. Quando for necessário, o Carmelo honrará e bendirá qualquer apostolado, mas nunca deverá esquecer que a melhor parte é a contemplação; a vida activa sempre virá em segundo lugar.
No entanto, o principal ponto que se deve recordar é que a escola do Carmelo, ainda que valorize ao máximo a cura de almas no mundo, não pode esquecer-se de que é chamada a uma vocação mais elevada. Elias, no meio de uma actividade intensa, foi chamado a uma vida de oração, e é um dos maiores Profetas do Antigo Testamento. A sua vida e a sua oração dizem-nos que a sua oração foi a força da sua vida. Por isso, a oração contemplativa do carmelita também é a força do apostolado activo... A vida mística é também apostólica no sentido mais elevado; sem ser activa exerce maior influência...
A antiga história da Ordem mostra-nos já desde a sua origem esta especial predilecção pela vida mística tendo sido um ideal constante da Ordem, muito antes que Santa Teresa e São João da Cruz empreendessem a reforma que levou a contemplação a um lugar tão destacado...
Segundo a documentação antiga que recolhe o espírito da Ordem, o alcance deste elevado estado de comunhão mística é prioritário como objectivo para todos os Carmelitas e todos estão obrigados a adaptar as suas vidas a este nobre ideal, se bem que, ao mesmo tempo, temos que insistir no carácter gratuito da graça mística”.
Impressiona-me muito que neste texto Tito Brandsma ultrapassa qualquer dicotomia entre contemplação e acção. As duas são básicas e não se opõem entre si, ainda que deva ser prioritária a contemplação, porque é a vontade de Deus e a missão que Ele nos confiou que desempenhemos, mas não por nossa conta. Por isso, Tito deixa muito claro, e sem lugar a qualquer dúvida, que a acção autêntica e efectiva só pode ser fruto da contemplação, porque não podemos fazer nada de substancial por nós mesmos: somente em união com Deus é que permitimos que Ele actue através de nós (cf. João 15). Nós, carmelitas, somos chamados de um modo especial a dar testemunho desta verdade. Se nos dermos ao “luxo” de criar tempo e espaço nas nossas comunidades para fortalecer a dimensão contemplativa da nossa vida, acabaremos por estar mais abertos à autêntica vontade de Deus e, com a ajuda do diálogo fraterno, encontraremos os caminhos que Deus tem hoje preparados para nós. Neste processo é possível que tenhamos o desafio de “sair dos «recintos sagrados» e «fora do acampamento» para anunciar «nos novos areópagos» que Deus ama com afecto perene a humanidade”. Além disso, podemos empreender qualquer tarefa ou actividade pastoral somente se esta está na linha da nossa vocação contemplativa e se é fruto da nossa união com Deus. Por isso, a nossa Ratio na mesma linha das Constituições estabelece que: “A partir do modo carmelita de entender e viver a contemplação, estamos dispostos para todo o serviço, apostolado ou profissão. E dado que «nós os Carmelitas temos que realizar a nossa missão no meio do povo, antes de tudo com a riqueza da nossa vida contemplativa», orientamo-nos para os serviços mais tipicamente espirituais. Por isso, façamos o que fizermos, atendemos especialmente o caminho espiritual das pessoas. Sobretudo o compromisso contínuo de viver o carisma contemplativo não só é a fonte do nosso serviço, como é em si mesmo o melhor serviço que podemos oferecer porque constitui o coração da missão que recebemos de Deus”.
Em segundo lugar, quero apresentar-vos a valoração de Kilian Healy, que expressou as mesmas convicções com outras palavras. O texto é um extracto do estudo que fez acerca da Reforma de Touraine, recentemente reeditado pelo Institutum Carmelitanum:
“Todas as Ordens utilizam os mesmos meios básicos para conduzir os seus membros à perfeição, mas aplicam-nos de forma diferente, dependendo da tarefa concreta para que foi instituída a Ordem. Todas as Ordens, por exemplo, reconhecem a oração como um meio normal e ordinário para crescer na caridade. E, precisamente, porque cada Ordem tem uma missão especial, cada Ordem dá-lhe mais ou menos ênfase a um ou a outro exercício de oração. Para o jesuíta, a oração, tanto oral como mental, é necessária. Mas, precisamente, para inspirar e aperfeiçoar a acção para a qual se orienta. Enquanto que para o carmelita, os diferentes exercícios de oração são o meio por excelência para alcançar o espírito contemplativo, o qual não se orienta como meio para a vida activa. O jesuíta procura a glória de Deus e a sua própria perfeição, assim como a do próximo, através do apostolado activo. O carmelita procura o fim em si mesmo, especialmente através do fervor da oração ou a vida contemplativa...
Para este ideal contemplativo a Ordem uniu-se ao apostolado activo, mas de forma que o espírito contemplativo predomina e sempre se mantém como a «pars principalior», governando e limitando o apostolado activo, que pode variar de uma época para outra segundo as necessidades da Igreja...
Viver comprometidos com a vida activa e, ao mesmo tempo, manter a primazia da vida contemplativa não é tarefa fácil. No entanto, o problema deve ser enfrentado de forma honesta e directa, porque é um problema real. Consideramos que só se pode resolver com êxito se se mantiver uma firme atitude perante o princípio fundamental de que a actividade dentro da Ordem depende do espírito contemplativo, como o sarmento depende da vide. E, se alguma vez, nos separar-nos dele, a vida do Carmelo murchará e morrerá. Ao carmelita, portanto, deve ser ensinado de que o primeiro e mais importante é ser uma pessoa de solidão e de oração. Ele mesmo deverá convencer-se pessoalmente de que o êxito do seu trabalho apostólico depende da sua fidelidade à vida contemplativa...A Ordem permaneceu fiel ao ideal contemplativo. Inclusivamente hoje, sete séculos depois, anima-se à vida eremítica e as Constituições recomendam os mosteiros para aqueles que desejam retirar-se de forma permanente ou, ao menos, durante um período de tempo, para entregar-se à oração e à solidão...A luta para manter a primazia da vida contemplativa pode ser vista em cada fase da história da Ordem – uma história que conheceu momentos de decadência, e inclusivamente de amargura momentânea. Em certas ocasiões, debilitada a partir de dentro pela perda do zelo, e novamente assediada a partir de fora por guerras, pragas e caos económico, a Ordem teve que recorrer a reformas para restaurar o zelo pela oração como a característica principal e fundamental da vida diária”.
Conclusão
Quero concluir com umas palavras do anterior Prior Geral, Pe. Joseph Chalmers: “Os aspectos da nossa vocação carmelita evidentemente que são muitos, mas estou convencido de que a dimensão contemplativa é crucial. Se a levarmos a sério, as outras dimensões também serão muito mais fecundas. O Carmelo é sinónimo de oração e contemplação. Levamos a cabo a nossa vocação não quando fazemos muitas coisas por Deus, mas quando deixamos que Deus nos transforme. Os nossos modos humanos de pensar, amar e agir converter-se-ão em modos divinos. Veremos a realidade como se fora através dos olhos de Deus e, amaremos, por conseguinte, toda a realidade como se tivéssemos o coração de Deus”.
Inspirados pela nossa rica tradição e guiados pelo Espírito Santo, esforcemo-nos apaixonadamente e com redobrado empenho em criar novos espaços de vida carmelita na nossa região europeia, de modo que possamos atrair e formar boas vocações para o futuro do Carmelo. Então, o belo comentário carmelita sobre o Cântico dos Cânticos, que Deus começou connosco há mais de 800 anos, continuará.