«Irmãos, enquanto os judeus pedem sinais e os gregos andam em busca da sabedoria, nós pregamos um Messias crucificado, escândalo para os judeus e loucura para os gentios. Mas, para os que são chamados, tanto judeus como gregos, Cristo é poder e sabedoria de Deus. Portanto, o que é tido como loucura de Deus, é mais sábio que os homens, e o que é tido como fraqueza de Deus, é mais forte que os homens». (1 Cor, 1, 22-25).
Deixemo-nos interpelar pelas palavras de São Paulo. Ainda não estamos evangelizados até às profundezas do nosso ser. Ainda há «judeu» e «grego» em cada um e cada uma de nós. Gostaríamos e, por vezes, pedimos mesmo, sinais, prodígios espetaculares que se nos impusessem, a nós e ao mundo inteiro, e assim nos dispensassem de fazer atos de fé. Ser cristão é estar marcado pela Cruz de Jesus Cristo, é ser mergulhado na Morte para tomar parte na Ressurreição (Rm 6,3-5). Recordemo-nos que, no nosso Batismo, o sacerdote traçou sobre nós o sinal da Cruz. Deixemo-nos interrogar: Que procuramos nós na Cruz, instrumento de tortura, escândalo para os judeus e loucura para os gentios? (1Cor 1,23). Coloquemos a pergunta: é realmente na Cruz que procuramos a Cristo, sabedoria e poder de Deus? Não O procuramos antes onde há boa vida, no monte das Bem-Aventuranças, na margem do lago, para participar na pesca, ou em lugares ainda mais agradáveis e sossegados?
Ora, a Cruz é para nós, cristãos, o lugar por excelência onde o poder de Deus se manifesta. É o ponto de encontro, de união com Cristo. Somos convidados a descobrir que a Cruz de Cristo tem um poder de Vida, que nos conduz à Luz. Contemplar a Cruz, não é comprazer-se no sofrimento e na dor, não é cair no masoquismo. O P. Tiago de Jesus contemplou demoradamente este mistério. Da sua experiência espiritual brota um ensinamento que ajuda os cristãos a abraçar a Cruz. Numa carta de 13 Maio de 1932, escreve a Jacques Lefèvre: «Não te assustes quando sentes a tua natureza a gritar. Nosso Senhor disse: “Se alguém Me quiser seguir, renuncie a si mesmo, tome a sua cruz e siga-Me" (Mt 16,24). E acrescentou: “O meu jugo é suave e a minha carga é leve” (Mt 11,30). Como isto é verdade! A Cruz de Jesus, que temos de tomar, parece pesada, rugosa, horrivelmente aflitiva, vista de longe. Mas, mal a recebemos resolutamente e com coragem, apercebemo-nos de que é suave e benfazeja e que irradia alegria divina!»
Terceira semana: “A Cruz, Sabedoria de Deus”
Segunda-feira, 4 de Março: O sinal da Cruz
«Meu Menino Jesus, vou à vossa escola. Sede o meu guia, ensinai-me “A Cruz”. Até posso ter ainda sessenta anos de vida sacerdotal para viver: sessenta anos!... É preciso que cada hora, cada dia seja empregue duma forma tão santa que alcance mais almas para vós!... » (Le Père Jacques, Martyr de la charité, p. 51)
«Julguei não saber outra coisa entre vós, a não ser Jesus Cristo, e Jesus crucificado». (1 Cor 2,2)
Páro um momento e faço sobre o meu corpo, lentamente, o sinal da cruz, invocando o nome de Deus.
Terça-feira, 5 de Março: Dilatar o coração
«Para que serve a vida, se ela não consistir numa subida incessante para Deus? (...) Quanto mais mergulharmos em Deus, mais todo o nosso ser se dilata. Sentimos a nossa alma e o nosso coração desabrochar. É uma brisa suave que vem do Céu e vivifica o nosso ser intimamente». (Cartas a Antoine Thouvenin, em 1925)
«Correrei pelo caminho dos Teus mandamentos porque deste largas ao meu coração». (Sl 118,32)
A fé alarga e amplia o meu ser profundo?
Quarta-feira, 6 de Março: Orar com o coração
«Acima de tudo, evitai ir ter com Jesus para ler diante d’Ele orações feitas dos livros. (…) O que Ele quer é o vosso coração e não fórmulas feitas». (Sermão de 1927, em Havre)
«Tu, porém, quando orares, entra no quarto mais secreto e, fechada a porta, reza em segredo a teu Pai pois Ele vê o oculto. (…) Nas vossas orações não sejais como os gentios, usando vãs repetições». (cf. Mt 6, 6-7)
Faço um tempo de oração em que confio ao Senhor a minha vida tal como ela é.
Quinta-feira, 7 de Março: Amar as multidões cansadas e oprimidas
«Peço-vos que adoteis com ternura maternal, que adoteis todas as pobres multidões, escutando Cristo falar a partir da Cruz e dizer: “Meu Pai, não te zangues com eles, eles não sabem quem Eu sou, não sabem o que fazem!” Peço-vos que os ameis. Não podemos fazer o bem (…) se não amarmos aqueles que devemos evangelizar como se fossem os nossos próprios filhos!» (Caderninho Lucien Bunel 1900-1945, p. 50)
«Jesus amou-os até ao fim». (cf. Jo 13,1)
Que pequeno gesto posso eu fazer hoje em favor de um próximo que esteja em provação?
Sexta-feira, 8 de Março: Cristo no meio de nós
«Não duvide, tão certo como estarmos aqui, Cristo está também, no meio de nós: está na Cruz e aí O pode contemplar». (Campo de Mauthausen, em 1944, Testemunho reportado por M. Augé)
«Eu estou convosco até ao fim do mundo». (Mt 28,20)
Faço um acto de fé na presença de Cristo hoje na minha vida.
Sábado, 9 de Março: Escutar com Maria
«Maria era oração silenciosa; e foi no silêncio, nesta oração silenciosa, retirada, que Maria escutou a voz do Anjo. Não o teria ouvido se não estivesse em silêncio». (Retiro à Ordem Terceira do Carmelo de Chaville, em 1936)
«Maria guardava todas estas coisas no seu coração». (Lc 2,19)
Peço à Virgem Maria que me ajude a escutar melhor a Palavra de Deus.