Mensagem do Padre Comissário à Família Carmelita

Mensagem na Solenidade de Nossa Senhora do Carmo de 2024

 Este Caminho é Bom e Santo: segui por Ele”

 (Regra da Ordem do Carmo, 20)

À Família Carmelita.

Saudações fraternas em Cristo e Maria, Mãe dos Carmelitas.

A existência humana é descrita como um caminho. e a condição da pessoa com fé é descrita como uma peregrinação, como bem resume a carta aos Hebreus: “Não temos aqui morada permanente, mas procuramos a futura” (Hb. 13, 14). Nesta Peregrinação, seguimos o único Caminho que dá sentido ao nosso ser itinerante em busca da Jerusalém Celeste: Jesus Cristo, Crucificado, Morto e Ressuscitado. Ele é o nosso “Caminho, a Verdade e a Vida” (Jo 14, 6).

Na celebração da Solenidade de Nossa Senhora do Carmo, neste ano de 2024 marcado pela preparação para a celebração do Jubileu de 2025 que tem como lema “Peregrinos da Esperança”, quero partilhar convosco uma breve mensagem sobre a dimensão peregrina e itinerante da Vida Carmelita.

Começo por recordar o que significa ser peregrino. Para isso e pela autoridade que a mesma tem, recorro a uma passagem da Mensagem do Papa Francisco para o Dia o Dia Mundial das Vocações de 2024 e que vos convido a ler e a meditar:

Mas que significa ser peregrinos? Quem empreende uma peregrinação procura, antes de mais nada, ter clara a meta, e conserva-a sempre no coração e na mente. Mas, para atingir esse destino, é preciso ao mesmo tempo concentrar-se no passo presente: para o realizar, é necessário estar leve, despojar-se dos pesos inúteis, levar consigo apenas o essencial e esforçar-se cada dia por que o cansaço, o medo, a incerteza e a escuridão não bloqueiem o caminho iniciado.

Por isso ser peregrino significa partir todos os dias, recomeçar sempre, reencontrar o entusiasmo e a força de percorrer as várias etapas do percurso que, apesar das fadigas e dificuldades, sempre abrem diante de nós novos horizontes e panoramas desconhecidos… Este é precisamente o sentido da peregrinação cristã: estamos a caminho à descoberta do amor de Deus e, ao mesmo tempo, à descoberta de nós mesmos, através duma viagem interior

A conceção da vida cristã como uma viagem interior de transformação é muito familiar ao carisma carmelita. As nossas Constituições, no número 16, referem: “A contemplação começa quando nos entregamos a Deus, qualquer que seja o modo que Ele escolher para se aproximar de nós. É uma atitude de abertura a Deus, cuja presença descobrimos em todas as coisas. A contemplação constitui, assim, a viagem interior do carmelita, que nasce da livre iniciativa de Deus que o toca e o transforma, levando-o à união com Deus no amor, elevando-o de tal modo que possa gozar deste amor gratuito e a viver na sua presença amorosa… Este amor transbordante de Deus leva-nos a uma experiência transformante: es­vazia-nos dos nossos modos humanos, limita­dos e imperfeitos de pensar, amar e agir, tornando-os divinos”.

A história da nossa Ordem está marcada por esta dimensão itinerante, caraterística das ordens mendicantes. A Ordem surge no Monte Carmelo a partir de grupos de peregrinos que ali se deslocaram e ali permaneceram. As circunstâncias histórias fizeram com que estes peregrinos, entretanto reconhecidos como frades após a aprovação da sua Regra de Vida, decidissem (re)peregrinar, agora em direção ao ocidente, trazendo para a Europa e daqui para outros continentes este carisma emergente na Igreja.

Partindo deste paradigma espiritual da nossa condição de peregrinos e nesta mensagem, mais do que muitas afirmações fechadas, quero deixar algumas questões para a nossa reflexão pessoal e para a nossa reflexão enquanto comunidades de religiosos, de religiosas e de leigos. O questionar leva-nos a caminhar na procura de respostas e no aprofundamento do sentido do próprio caminho. O questionar é próprio de quem não para no seu itinerário interior e busca ir sempre mais além. Assim: 

- Temos consciência da realidade dinâmica da nossa Consagração carmelita? Que caminho estamos a seguir? É o caminho que nos leva a Jesus? É o Caminho que o Espírito nos inspira? Ou é um caminho que brota do nosso egocentrismo e da nossa busca de estatuto e afirmação pessoal? Qual a nossa meta?

- A nossa comunidade vive em função de tradições e prescrições estáticas ou a partir da convicção de que o carisma carmelita nos conduz a Jesus, Caminho de salvação? Estamos dispostos a abrirmo-nos a uma renovação a partir do Evangelho? Somos comunidades fechadas? Estamos abertos a acolher aqueles que Deus nos envia? Vamos ao encontro das pessoas?

- A nossa peregrinação contemplativa de transformação constante em Deus, vivida na fraternidade e no serviço leva-nos a ser mais acolhedores, compassivos e misericordiosos? Que gestos de misericórdia, de proximidade e de caridade são evidentes na nossa comunidade? Que gestos e sinais poderemos fazer nesse sentido?

- A nossa Oração transforma-nos? Como oramos? Que frutos produz a nossa oração?

- Sabemos dialogar em comunidade? Reconheço no ser do outro como uma presença de Deus para mim? Coloco-me numa cómoda situação passiva ou procuro ser ativo e dedicado na comunidade? Julgo facilmente os outros como se fosse um “fiscal” de quem tem os serviços de maior responsabilidade? Discernimos em fraternidade sobre o caminho a percorrer? Sei escutar? Escutamo-nos? Comunicamos em Comunhão? Vejo no outro um Dom ou um concorrente? Caminhamos em registo sinodal?

- Olhamos para Maria como um exemplo perfeito para quem é discípulo de Jesus?

Proponho que numa reunião de avaliação deste ano pastoral de 2023-2024 e/ou numa reunião preparatória do ano pastoral de 2024-2025 se revisitem estas questões e que elas sirvam de mote para as nossas programações próximas e para o delinear de objetivos pessoais e comunitários.

Além do Jubileu de 2025, a nossa Ordem vai entrar num itinerário de reflexão e de preparação para o Capítulo Geral de 2025. Este Capítulo, para o qual seremos chamados a dar o nosso contributo, realizar-se-á em Malang, Indonésia, de 9 a 27 de setembro de 2025 e terá como tema: “Devereis fazer algum trabalho” (Regra, 20): a nossa fraternidade contemplativa discerne a sua missão”.

 A citação inspiradora desta mensagem (“Este caminho é bom e santo: segui por Ele”), retirada do número 20 da Regra da Ordem do Carmo e que foi escolhido como lema do Encontro da Família Carmelita da Região Ibérica de 2024, lembra-nos que o caminho carmelita que nos é proposto é um caminho seguro que nos conduz a Deus, fonte de toda a Santidade. Este caminho e como a própria ideia de caminho suscita, é dinâmico e evolutivo.

Neste caminho, revistamo-nos das “armas espirituais da armadura de Deus”, apresentadas na referida Regra e cuja simbologia espiritual serve de inspiração para as reflexões propostas para novena preparatória da solenidade de Nossa Senhora do Carmo.

Aqueles que são “Peregrinos da Esperança” nunca desanimam! Sabem para onde vão e sabem como fazer o caminho. Nós somos “Peregrinos da Esperança”!

Maria, a Senhora do Carmo, que se colocou apressadamente a caminho da casa da sua prima Isabel,

S.to Elias e S.to Eliseu acompanham-nos e animam-nos a subir ao Monte Carmelo que é Jesus Cristo e o seu Reino.

Façamos este caminho em fraternidade, unidos a toda a Família Carmelita, construindo um Reino de Justiça, de Paz e de Amor.

Santa e Feliz Solenidade de Nossa Senhora do Carmo.

Lisboa, 12 de julho de 2024   

Padre Frei Agostinho Marques de Castro, O. Carm.

(Comissário-Geral)

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