Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas (Lc 12, 35)
Uns chamam-na de “euforia do Verão”; outros “desregramento”. O certo é que, durante o Verão, é mais fácil advertir este tipo de vida cada vez mais frequente na sociedade ocidental e que foi qualificado por alguns analistas como “experiência da vertigem”.
Todos sabemos o que sucede quando subimos uma torre alta e olhamos para o solo. O vazio arrasta-nos, e se não nos segurarmos fortemente em algo, corremos o risco de nos precipitarmos para o abismo. Algo disto pode acontecer na vida do indivíduo. O vazio interior pode provocar uma espécie de vertigem capaz de arrastar a pessoa para a sua ruína.
Quando se vive sem convicções profundas ou se carece de verdadeiros ideais, cria-se um vazio interior que deixa a pessoa à mercê de toda a espécie de impressões passageiras. Então, tudo o que produz euforia ou prazer seduz e arrasta. O indivíduo deixa-se levar por qualquer experiência que possa preencher a sua sensação de vazio. Necessita possuir e desfrutar tudo, agora mesmo e ao máximo.
Outra característica desta “vertigem existencial” é a busca do ruído. A pessoa não suporta o silêncio. O recolhimento aborrece. Necessita de se perder na agitação e no barulho. Desta forma, é mais fácil viver sem escutar nenhuma voz interior.
Esta vertigem conduz, em geral, a um estilo de vida onde tudo corre o risco de ficar desfigurado. Facilmente se confunde a alegria com a euforia, a festa com a orgia, o amor com o sexo, o descanso com a desfaçatez. A pessoa quer viver intensamente cada momento, frequentemente, não pode evitar a sensação de que pode estar-lhe a escapar algo importante da vida.
E, certamente, é assim. Na “experiência da vertigem” encerra-se um engano que Alfonso López Quintás resume com estas palavras: “As experiências fascinantes de vertigem prometem tudo, não exigem nada e acabam tirando tudo”. Para viver uma vida de vertigem, não faz falta nenhum esforço. Basta somente deixar-se levar pelos impulsos instintivos e ceder à satisfação imediata. O que se passa é que uma vida “desregrada” leva facilmente à dispersão, ao entorpecimento e à tristeza interior.
Temos de escutar o convite de Jesus para viver vigilantes: “Estejam apertados os vossos cintos e acesas as vossas lâmpadas”. Para viver de forma mais humana e mais cristã é necessário cuidar mais “do dentro” e alimentar melhor a vida interior. Não é de admirar que um mestre espiritual dos nossos dias afirme que o homem contemporâneo necessita de escutar o célebre lema de Santo Agostinho: “voltemos ao coração”.
J. A. Pagola