Flashes duma Santa jovem: Isabel da Trindade

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«A propósito da canonização de Isabel da Trindade ocorreu-me trazer a estas páginas do Mensageiro alguns lampejos da vida desta Santa, que morreu aos 26 anos.» 


Nasceu bela e muito viva. No acampamento militar de Avor, perto de Bourges, nasceu, a 18 de Julho de 1880. Era filha do capitão Francisco José Catez e de Maria Rolland, uma mulher afável e de fé profunda. Na noite da espera do nascimento houve temor e angústia, porque a vida daquela que estava para nascer parecia seriamente ameaçada. O capitão Catez dirige-se ao capelão e pede-lhe que interceda a Deus pela vida da filha que está para nascer. Quando a Missa está para terminar, a pequena Maria Isabel, bela e muito viva, viu a luz deste mundo. Foi baptizada quatro dias depois na festa de Santa Maria Madalena. 


«Um diabinho». Caracterizava-a um temperamento forte, impulsivo, colérico: «Ainda nem sequer fala, mas já quer impor a sua vontade» (dizia a mãe). A sua irmã (Margarida), recordando os primeiros anos de Isabel, diz que por vezes chegava a ser um «pequeno diabrete». 


A morte do pai. Nos começos do ano de 1887 a família Catez traslada-se para Dijon. A 2 de Outubro de 1887 assiste à morte do seu pai, do qual conservará sempre viva recordação: «Não hão-de apagar da memória/ recordação de um pai amado/ que por Jesus foi chamado,/ bem jovem, p’ra eterna glória» (P 37). 


A primeira comunhão. A 18 de Abril de 1891 recebe pela primeira vez a comunhão em Saint-Michel: «Nesse dia, Jesus fez de mim a Sua morada e Deus apoderou-se do meu coração». A mudança efectuada na sua vida foi total. Na tarde desse belíssimo dia, na visita efectuada ao Carmelo, ficou a saber que o seu nome significava Casa de Deus. O itinerário da iniciação cristã ficou completo com o sacramento da Confirmação, recebido em Notre-Dame, a 8 de Junho de 1891. 


A música e o piano. A partir dos 8 anos estuda no Conservatório e todos os dias passa horas em casa ao piano. Aos 13 anos obtém o primeiro prémio de Solfejo superior no Conservatório de Dijon (18 de Julho de 1893) e o primeiro prémio de Piano (25 de Julho)... Uma das suas grandes amigas (Françoise de Sourdon) diz de Isabel: «Os seus olhos negros brilhavam…, tocava maravilhosamente o piano, com um sentimento excepcional. Um dia, em que tocava a Balada em Si menor de Chopin, meu pai, que era um grande músico, disse ao ouvi-la: Esta menina faz-nos chorar!».


Bailes, convívios, jogar ténis. Nas suas cartas fala de música, de bailes, do convívio com outras jovens; declara o seu entusiasmo perante a beleza da natureza, as montanhas e o mar; exprime a alegria de encontrar as amigas, de jogar ténis e críquete. Os seus ares encantadores davam a volta à cabeça de muitos rapazes, mas ela respondia: «O meu coração já não está livre, dei-o ao Rei dos reis, já não posso dispor dele». Tinham razão os rapazes psicólogos quando diziam entre eles: «Esta não é para nós, vede o seu olhar…». 


Como se vê a si mesma. «Sou morena e bastante alta para a minha idade. Tenho olhos negros brilhantes, as minhas sobrancelhas espessas dão-me um ar severo». «Sou alegre e, devo confessá-lo, um pouco incauta. Tenho bom coração. De natureza coquette. É necessário ser-se um pouco, diz-se. Não sou preguiçosa, pois sei que o trabalho dá felicidade. Sem ser um modelo de paciência, sei geralmente conter-me» (Ds 16). 


A decisão dos 14 anos. «Ia fazer catorze anos, quando um dia, durante uma acção de graças, me senti irresistivelmente inspirada a escolher Jesus como único esposo e imediatamente a Ele me liguei por um voto de virgindade» (S 23). A sua paixão é Jesus: «Gostaria tanto, ó meu Mestre, de viver contigo no silêncio. Mas o que acima de tudo amo é fazer a tua vontade… Ofereço-te a cela do meu coração, que seja a tua pequena Betânia; vem aqui repousar» (NI 5). 


Entrada no Carmelo. No dia 2 de Agosto, com 21 anos, entra no Carmelo de Dijon convicta de que «as grades não podem separar os corações que se amam em Deus» (cf. Cartas 71 e 74). Antes de deixar a sua casa, ajoelha-se diante do retrato do pai e pede-lhe a última bênção. Depois da missa das 8 horas, a mãe levou-a à porta da clausura. No Carmelo recebe o nome de Maria Isabel da Trindade: «Parece que este nome significa uma vocação especial... Amo tanto este mistério trinitário...» (Carta 55). 


A doença e a morte. Depois de tomar o hábito a 8 de Dezembro de 1901 e professar a 11 de Janeiro de 1903, sentiu na quaresma de 1905 os primeiros sintomas da síndroma de Addison que a levaria à morte, acontecida por volta das 6h da manhã do dia 9 de Novembro de 1906. As suas últimas palavras foram estas: «Vou para a Luz, o Amor, a Vida». Foi beatificada a 25 de Novembro de 1984 pelo Papa João Paulo II e canonizada a 16 de Outubro de 2016 pelo Papa Francisco. 
E o que faz ela agora? No dia 28 de Outubro de 1906 escreveu (Carta 335): «Parece-me que, no Céu, a minha missão será a de atrair as almas ajudando-as a saírem de si mesmas para aderirem a Deus, por um movimento muito simples e todo feito de amor». Atraí-me para Deus, santa Isabel da Trindade! Amén. 

P. Agostinho Leal, ocd , Mensageiro do Menino Jesus de Praga, nº 202

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