LIBERTOS DA ESCRAVIDÃO DA RIQUEZA
A proximidade de Deus confere a coragem de opções radicais. Em primeiro lugar, liberta do desejo de possuir. Jesus vive para o Pai, ancorado no seu amor, disponível à sua vontade. A fim de testemunhar a confiança absoluta nele e dedicar-se totalmente ao seu Reino, assume uma vida pobre e itinerante. Quer que também os discípulos vão levar a feliz notícia, livres de todos os empecilhos: “Nada leveis para o caminho: nem cajado, nem alforge, nem pão, nem dinheiro, nem tenhais duas túnicas (Lc 9, 3). Adverte as pessoas, para que não se deixem sugestionar pela riqueza: “Ninguém pode servir a dois senhores... Não podeis servir a Deus e ao dinheiro” (Mt 6, 24). A riqueza assenhoreia-se de uma pessoa quando se deposita nela a medida do valor e a segurança da vida: “Guardai-vos de toda a cobiça, porque, mesmo que um homem viva na abundância, a sua vida não depende dos seus bens” (Lc 12, 15). Trata-se de um perigo muito concreto. O jovem rico não consegue libertar-se dos seus bens, volta as costas a Jesus e vai-se embora triste (cf. Mt 19, 16-22).
A preocupação com o bem-estar é redimensionada. Há valores mais importantes e decisivos, para além do alimento e do vestuário: “Olhai para as aves do céu: não semeiam, nem ceifam, nem recolhem em celeiros; e o vosso Pai celeste alimenta-as: Não valeis vós mais do que elas?”. Claro que é necessário semear e colher, fiar e tecer, projectar e trabalhar, mas sem ansiedade pelo amanhã (cf. Mt 6, 19-21). É preciso possuir sem ser possuído, sem preferir o bem-estar à solidariedade.
O Evangelho manda distribuir e pôr em circulação os nossos bens: “Fazei para vós bolsas que não envelhecem, um tesouro inesgotável nos céus, do qual o ladrão não se aproxima e a traça não corrói” (Lc 12, 33). Condena a posse egoísta que não considera as necessidades alheias. Contudo, não pede que se viva na miséria. O valor absoluto é a fraternidade, não a pobreza material. Confirma-o a experiência da primeira Igreja em Jerusalém, onde os crentes tinham “um só coração e uma só alma” (Act 4, 32), punham os seus haveres em comum e, assim, “entre eles não havia ninguém necessitado” (Act 4, 34).