OS MILAGRES DE JESUS - I
No Antigo Testamento, os acontecimentos prodigiosos do Êxodo e, em geral, os milagres realizados por Deus e pelos seus enviados atestam a presença salvífica do Senhor na história do seu povo. No Novo Testamento, esses factos extraordinários são chamados “milagres (obras poderosas), prodígios e sinais” (Act 2, 22). Obras poderosas, porque manifestam o poder criador de Deus; prodígios, porque são acontecimentos extraordinários e inexplicáveis, que provocam a admiração das pessoas; sinais, porque no contexto da pregação evangélica transmitem um significado preciso: a chegada do Reino de Deus.
Os milagres são gestos através dos quais Deus nos fala. Dirigem-se sempre às pessoas, ou porque lhes dizem directamente respeito, como as curas dos doentes, ou, pelo menos, lhes trazem alguns benefícios materiais e espirituais, como sucede na multiplicação dos pães e em outras transformações da natureza.
Jesus de Nazaré, coerente com a sua missão de Messias-Servo, firme ao repelir as tentações da riqueza, do êxito e do poder, nunca se serve dos milagres para seu interesse pessoal. Tal como ensina com autoridade, assim realiza os milagres com autoridade, em seu próprio nome: ”Eu te ordeno” (Mc 5, 41).
O significado dos milagres é múltiplo. Deus tornou-se presente de uma forma nova, para vencer o pecado, a doença, a morte e todas as formas de mal, a fim de dar ao homem a salvação integral, espiritual, corporal, social e cósmica, agora como antecipação e depois, no final da história, em plenitude, fazendo “novas todas as coisas” (Ap 21, 5). O povo, perante estes gestos divinos é chamado a acreditar e a converter-se. Contudo, por vezes, Jesus manifestou relutância em realizar milagres. Esta recusa tem um significado específico: ele quer evitar que as pessoas instrumentalizem Deus em função dos seus interesses imediatos. Para quem não procura a comunhão com Deus mas apenas os seus benefícios, o milagre torna-se alienante. Jesus exige, pelo menos, uma fé inicial, uma abertura ao mistério.