Terceiro Dia da Novena de Nossa Senhora do Carmo

3º Dia: Ser ministros da misericórdia (9 de Julho)

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Se Deus é amor misericordioso e nós somos chamados a ser arautos da sua misericórdia e reconciliação, só o poderemos fazer se formos também ministros da Sua misericórdia. De facto, pelo batismo, fomos ungidos pelo Espírito Santo, para sermos consagrados como membros de Cristo sacerdote, profeta e rei. Se ontem falamos do nosso múnus profético, tão justamente sublinhado pela espiritualidade carmelita desde a sua própria origem, hoje deter-nos-emos sobretudo na nossa missão sacerdotal.

Sacerdote é aquele que santifica as coisas e o tempo, porque nele há disponibilidade, espaço e tempo para a admiração, o reconhecimento, para Deus e para os homens, de modo a poder levar Deus aos homens e os homens a Deus. Não como mais uma lei, norma ou preceito, mas como surpreendente e sempre reafirmada novidade que, através de nós, quer chegar a todas as suas criaturas.

A liturgia de hoje é elucidativa a este respeito. A primeira leitura narra-nos a vocação de Isaías, ocorrida em 740 a.C. Ele entrou no santuário e, para sua enorme surpresa, Deus, o três vezes santo, estava ali! Uma surpresa que ainda hoje se renova em cada Eucaristia, sinal máximo do amor e misericórdia divinas, na qual, a concluir o prefácio, com os Anjos e Santos entoamos com alegria, cantando numa só voz: “Santo, santo, santo…”.

Perante a manifestação da santidade de Deus, Isaías estremece. Que santidade é esta, que Maria engrandeceu no Magnificat? “Santo” quer dizer separado, consagrado, reservado para Deus, isento de qualquer contacto com o que é profano ou impuro. Se para nós, seres humanos, a santidade significa separar-se do mal, para Deus ela é a manifestação do seu próprio ser e misericórdia: porque é santo, Deus aproxima-se, convive e vive com o homem pecador, sem qualquer problema, permanecendo imune e incontaminado de tudo o que é profano ou pecador. Mais: não só o faz, desde sempre, como autor de toda a santificação, mas também agora, entrando na nossa história, dando-nos a sua graça, para nos salvar e santificar, e para sempre, como a meta para a qual sempre tendemos, sem nunca a esgotar. Por isso, repetimos “Santo, santo, santo, é o Senhor…”. Nós precisamos da santidade de Deus, porque é dela que brota a sua misericórdia e perdão. Quem os experimentou, não pode ficar calado, mas sente-se impelido a dizer como Isaías e Maria: “Eis-me aqui, podeis enviar-me” (Is 6,8), para o testemunhar. É o que Jesus nos diz no Evangelho: “O que vos digo às escuras, dizei-o à luz do dia; o que escutais ao ouvido pro­clamai-o sobre os telhados. Não temais… Até os cabelos da vossa cabeça estão todos contados. Valeis muito mais do que todos os passarinhos”.

Adentrar-se no mistério da misericórdia divina, reconhecer que tudo dela recebemos, louvá-la, falar dela, anunciá-la, testemunhá-la e proclamá-la como fonte de toda a vida cristã, não é algo que só fazemos quando nos encontramos em necessidade, mas é próprio coração de toda a vocação, vida e missão evangelizadora cristã.

Se queremos anunciar, jubilosa, gratuita e com desassombro, em palavras e obras, a misericórdia divina, há, antes de mais, que reconhecer que só Cristo é o Senhor da própria vida, dando-Lhe graças pela sua misericórdia: “O discípulo não é maior do que o mestre, nem o servo superior ao seu senhor. Ao discípulo basta ser como o seu mestre e ao servo ser como o seu senhor” (Mt 10,24). Desta forma estaremos em condições de a levar aos outros. Para que tal graça possa crescer, como diz S. Maria Madalena de’ Pazzi, é necessária a gratidão: “Dando-se conta que Jesus lhes dava os seus dons e graças, davam-lhe graças  e elas aumentavam cada vez mais neles. Sabendo que todos os dons, graças e bênçãos que tinham vinham de Deus e não deles mesmos, reconhecendo que nada eram e que era Deus que neles operava todo o bem apenas pela sua infinita graça e misericórdia, davam­­‑lhe continuamente graças pelos seus benefícios” (I, 233). O mesmo afirma S. Teresinha do Menino Jesus: “O que mais atrai as graças do bom Deus é a gratidão, porque quando lhe damos graças por um benefício, Ele fica tocado e apressa-se a dar-nos outros dez e se continuamos a agradecer-lhe com a mesma efusão, que multiplicação incalculável de graças” (CS 72).

Foi o que Maria fez no Magnificat: reconheceu que todo o seu bem vinha de Deus, dando-lhe graças por tudo. Assim também nós somos seremos sacerdotes da nova e eterna aliança, “raça eleita, sacerdócio real, nação santa, povo de propriedade exclusiva de Deus, a fim de proclamarmos as virtudes daquele que nos chamou das trevas para a sua admirável luz;  nós que antes não éramos povo, mas agora somos povo de Deus; nós que não tínhamos alcançado misericórdia, mas, agora, alcançamos misericórdia” (1 Pd 2,9s). Para sermos seus arautos e a levarmos a todos.

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