6º Dia: A misericórdia, fonte de alegria (12 de Julho)
As leituras de hoje interpelam-nos e chamam-nos à conversão, pondo-nos perante o dom do amor misericordioso de Deus e a sua oferta de salvação.
Aprouve a Deus revelar-se a Si mesmo, dando a conhecer o mistério da sua vontade: chamar-nos, por meio de Cristo, a conhecer o seu amor de Pai e a ter acesso a Ele, na comunhão do Espírito Santo, formando em Cristo um só com Ele e com os irmãos, de modo a participarmos da sua natureza e vida divinas. Deus deu-se a conhecer a si mesmo, dando-se a si mesmo a cada um de nós, como comunhão de vida e de amor, de modo a podermos experimentar o seu amor e, repletos de todas as bênçãos espirituais em Cristo, vivermos como seus filhos adotivos, sendo santos e irrepreensíveis diante d’Ele na caridade, para louvor da glória da sua graça (cf. Ef 1,3-6).
A tão grande, sublime e profundo dom do amor de Deus responde o homem com a fé, entregando-se, total e livremente a Ele, oferecendo-lhe o total obséquio da sua inteligência e da sua vontade, prestando voluntária adesão à Sua revelação e filial obediência à Sua vontade. Ao fazê-lo, em vez de ser violentada por tão grande dom, a nossa liberdade é por Ele redimida, curada e elevada à sua maior e mais sublime dimensão.
Por isso nos recorda o Papa Francisco: “Precisamos sempre de contemplar o mistério da misericórdia. É fonte de alegria, de serenidade e de paz. É condição da nossa salvação (VM 2). O mesmo apelo nos faz Jesus: “Se conhecesses o dom de Deus e quem é Aquele que te diz, dá-me de beber, tu é que lhe pedirias e ele dar-te-ia uma água viva” (Jo 4,10). Porque sem esta mística, não haverá alegria na prática da nossa fé, entusiasmo na afirmação da nossa esperança, amor no exercício da nossa missão.
Infelizmente, diz S. Maria Madalena de’ Pazzi, mesmo entre os cristãos, o Seu amor não é amado, nem conhecido. Por isso, convida a todos, homens e criaturas, a amar e conhecer tão grande amor (I,152; VI,188s), para o fazer amar e tornar conhecido, fazendo deste ponto o centro, o motivo e a meta de toda a sua existência. Diz ela: “Assim como o Senhor fez tudo com tão grande ordem, também faz tudo com tão grande misericórdia, a qual procede do grande e desmesurado amor que Ele tem para connosco. Ele não usa de misericórdia para connosco por causa da nossa grandeza, porque somos tão vis; nem por causa da nossa bondade, porque é tão grande a nossa maldade; nem por causa do nosso amor, porque o nosso coração está tão repleto de ódio e de inveja, que o fizemos sofrer morte e morte de cruz, continuando ainda hoje a crucificá-lo com as ofensas que lhe fazemos. Mas é unicamente por sua pura misericórdia, que nunca deixa de usar para connosco, pois é próprio dele usar de misericórdia. Este Deus misericordioso usou de grande misericórdia ao criar-nos e redimir-nos. E é maior a misericórdia que usa para connosco, suportando diariamente as nossas ofensas, do que a que teve ao ter derramado por nós o seu Sangue na Cruz. Mas onde ela mais se manifestou foi em ter-se deixado a nós no Santíssimo Sacramento, consagrado pela palavra e pelas mãos dos sacerdotes, tantas vezes pecadores. Esta é a sua maior misericórdia para connosco, que procede do seu incomensurável amor, incompreensível misericórdia e infinita bondade, as quais ninguém pode conhecer, nem delas é capaz, a não ser o próprio Deus e o seu mesmo amor. E assim, quem se une a Ele com este amor, é completamente transformado nele, tornando-se outro Deus por participação e união de amor com Ele” (I,227ss)
Foi este amor e misericórdia que os contemporâneos de Jesus não quiseram receber, a fim de para Ele se voltar e a Ele se converter. Por isso Jesus exclama: “Ai de ti, Corazim! Ai de ti, Betasaida …”. Porque, como a Igreja canta no Precónio Pascal: “De nada nos serviria ter nascido, se não tivéssemos sido resgatados. Oh admirável condescendência da vossa graça! Oh incomparável predileção do vosso amor! Oh necessário pecado de Adão, que foi destruído pela morte de Cristo! Oh feliz culpa, que nos mereceu tão grande Redentor!”, grito que S. Maria Madalena de’ Pazzi, repleta de amor e gratidão, por três vezes repete (II,374; III,227; IV,285).
Maria, pela fé, detinha-se a contemplar a misericórdia de Deus, que logo punha em prática. E isso foi para ela fonte de inefável alegria. Porque o seu coração, livre de todo ódio e inveja, se tornou um céu. E como diz Cristo: “Há mais alegria no céu por um só pecador que se converte, do que por noventa e nove justos que não precisam de conversão” (Lc 15,7). Por isso, para ela não é um fardo ser Mãe de Misericórdia e refúgio dos pecadores: é antes fonte de alegria, porque ao acolher-nos e atrair-nos de forma tão doce e suave para o seu Filho, abre-nos à Sua misericórdia e ao ver-nos recebê-la, vê a obra da graça de Deus em nós e a chama do seu amor a acender-se nos nossos corações, incitando-nos de seguida a permanecer assim, de coração firme no Senhor, pela fé (cf. At 11,23). Tal como Isaías nos diz na primeira leitura: “Se não tiverdes fé, não permanecereis” (Is 7,9). Acorramos, pois, confiadamente a Cristo e a ela, para recebermos misericórdia e obtermos a graça de uma oportuna salvação (cf. Hb 4,16).