7º Dia: A misericórdia, fonte de alegria (13 de Julho)
Depois de termos sido chamados à conversão e a contemplarmos a misericórdia de Deus, Jesus convida-nos hoje a entrar no seu âmago, dizendo: “Eu Te bendigo, ó Pai, Senhor do céu e da terra, porque escondeste estas coisas aos sábios e inteligentes e as revelaste aos pequeninos”.
Esta passagem evidencia que tudo o que Deus faz e diz, é para se revelar a si mesmo, é para se dar a si mesmo a nós, para que O possamos conhecer e amar. Esta revelação e este dom são sempre pessoais: de Deus que se dá a si mesmo, como Pai, Filho e Espírito Santo, um só Deus em três pessoas divinas, para que possamos ser introduzidos na sua comunhão, admitidos à sua vida íntima e participar da sua natureza divina, isto é, o seu amor. Apesar da nossa fraqueza, da nossa pequenez, da nossa miséria, do nosso pecado. Não apenas uma vez, no passado, mas cada dia de novo, a cada hora, em cada circunstância, acontecimento e pessoa, como se fosse a primeira vez, pois “o Senhor não abandona o seu povo” (Sl 94,14).
Foi disto que a Assíria se esqueceu. Pensou que tinha recebido o impulso inicial, apenas uma vez no passado, e que tudo o resto era ela que o devia fazer. Parecia humildade, mas de facto era soberba desmesurada, arrogância e orgulho. Porque se tudo o resto era ela que devia fazer, então tudo o resto era a ela que se devia, dizendo: ‘Eu agi pela força do meu braço, atuei com a minha sabedoria, porque sou inteligente’. E isso fê-la desprezar os outros, oprimi-los e violentá-los. “Gloria-se, porém, o machado contra quem o empunha? Maneja o bastão quem o levanta?”
Os caminhos de Deus são bem diversos: “os meus pensamentos não são os vossos pensamentos, nem os vossos caminhos são os meus caminhos, diz o Senhor” (Is 55,8). Foi do agrado do Pai seguir na direção oposta, revelando o seu amor e a sua misericórdia aos pequeninos, às criancinhas, aos humildes, aos fracos e pecadores. Àqueles que reconhecem que nada são, nada podem e nada sabem por si mesmos, sem o Pai. E que, por isso, se entregam gozosamente nas suas mãos, deixando-o fazer neles a sua obra. “O que é fraco para este mundo, Deus escolheu-o para confundir o que é forte. Deus escolheu o que no mundo é vil, aquilo que é nada, para assim mostrar a nulidade dos que pensam ser alguma coisa. Para que ninguém se possa gloriar diante de Deus” (1 Cor 1,27ss). Por isso Jesus diz: “Sim, Pai, Eu Te bendigo, porque assim foi do Teu agrado”. E Paulo acrescenta: “É graças a Ele (o Pai) que vós estais em Cristo Jesus, o qual se tornou para nós sabedoria de Deus, justiça, santificação e redenção” (1 Cor 1,30s).
Para que Deus realize em nós a sua obra, de modo que Cristo Jesus (Cristo, Cabeça, na Igreja, seu Corpo), seja a nossa sabedoria, nos justifique e faça progredir na santidade, libertando-nos de nós mesmos e de tudo o há de terreno, há que abandonar-nos à sua misericórdia, confiar n’Ele, entregar-nos nas suas mãos, aceitar o seu plano, abraçar concretamente a sua vontade expressa na nossa história pessoal, conscientes da nossa cegueira e ignorância, do nosso nada e pequenez. Por isso nos entregamos nas suas mãos e lhe damos graças em todas as situações, fáceis ou difíceis, alegres ou tristes, confortantes ou dolorosas, sabendo que tudo lhe foi dado pelo seu Pai e que, por isso, Ele tudo tem e tudo dirige, de modo que, pondo-nos nas suas mãos, sabemos que estamos nas mãos do Pai: “Ninguém conhece o Filho, senão o Pai; e ninguém conhece o Pai, senão o Filho, e aquele a quem o Filho o quiser revelar” (Mt 11,27).
S. Maria Maddalena de’ Pazzi chama a este abandono total, amoroso e confiante de si mesmo ao Pai pela fé “relaxar-se”, isto é, deixar-se inteiramente, render-se completamente ao Pai, tudo depondo nas suas mãos: “Quem alguma vez poderá narrar a tua grandeza e a tua bondade em no-la comunicar? A maior narrativa que de Ti se pode fazer é relaxar-se totalmente em Ti, em tudo e por tudo, e aniquilar-se sob Ti” (III,283), “abandonando-se, completamente morta, em Deus, de modo que seja Deus a agir nela e ela em Deus, de tal modo que ela, ao agir não repare que o está a fazer” (IV,185). S. Teresinha chamar a este abandono incondicional nas mãos do Pai, caminho da infância espiritual e exclama: “o Todo-poderoso fez maravilhas na alma da pequenina filha da sua Divina Mãe e a maior foi ter-lhe mostrado a sua pequenez e impotência”. (MC, 4r). São estes pequeninos, os que mais agradam a Deus, porque, sem o saber, por puro amor, fazem o bem aos mais pequeninos dos homens, usando de misericórdia para com eles, sem nada pretender em troca, como mostra a sua pergunta no juízo final: “Senhor, quando é que te vimos com fome e te demos de comer, a sofrer e te socorremos e consolamos?” (Mt 25).
Maria, porém, confiou, aceitando fazer-se pequenina. E assim conheceu o Pai, proclamando a sua obra e dando a conhecer a sua misericórdia, reconhecendo o seu Filho nos mais pequeninos que encontrava e deles aprendendo o Evangelho, tornando-se, pela sua obediência, através do que sofreu, Mãe de misericórdia, capaz de se compadecer e de compreender as nossas dificuldades, porque também por elas passou, grata por assim melhor poder conhecer o amor misericordioso de Deus e o seu Filho.