O Profeta Elias

O Profeta Elias

 

alt

 

Recentemente a Família Carmelita redescobriu a importância do Profeta Elias como inspiração para o trabalho pela justiça e pela paz. A sua experiência contemplativa impeliu-o à acção profética. Ele denunciou sem medo as acções dos poderosos do seu tempo e trouxe a luz da Palavra de Deus para as situações de pecado. A história da vinha de Nabot (1Rs 21,1-29) é um bom exemplo da actividade profética de Elias. O rei Acab desejava possuir a vinha de Nabot, mas este não queria vender o seu património. A rainha Jezabel zombou do seu marido e desafiou-o a mostrar quem era de facto o rei de Israel. A rainha tramou um esquema diabólico para acusar Nabot injustamente de blasfémia e para assumir o controle da vinha quando Nabot estivesse eliminado. O profeta Elias aparece quando Acab veio tomar posse da vinha e condenou o rei por abuso de autoridade. Este foi obviamente um passo muito corajoso. Proclamar a Palavra de Deus em certas situações pode ser muito perigoso. No profeta Elias vemos um homem que soube traduzir a sua experiência contemplativa em acção profética.


Elias conseguiu uma grande vitória para Yahweh no Monte Carmelo (1Rs 18,36-40), mas foi ameaçado por Jezabel e imediatamente as suas vozes interiores minaram a sua confiança em Deus. Foi para o deserto (1Rs 19,3-4) que tradicionalmente é um lugar de silêncio (Os 2,17). Deus falou-lhe através do anjo e Elias pôde continuar a sua jornada. Elias teve dificuldade em discernir a voz de Deus no meio de todos os seus problemas, mas, mesmo com dificuldades, continuou a caminhar até ao Horeb (1Rs 19,5-8). Quando chegou, Deus pergunta-lhe o que faz aí. Elias justifica-se, dizendo que está repleto de zelo pelo Senhor Deus dos exércitos. Diz a Deus que, em todo o Israel, ele é o único defensor que resta de Yahweh (1Rs 19,10). Deus não responde, mas simplesmente diz a Elias para sair e ficar na montanha. Aí Elias encontra Deus, mas não do modo como ele esperava, nem do modo como toda a sua tradição religiosa lhe havia ensinado. Elias deve silenciar todas as suas vozes interiores que lhe dizem como Deus parece ser, para que possa acolher Deus como Deus é (1Rs 19,11-12). Uma vez que Elias encontra Deus nos termos de Deus, e não como ele o imaginava, abre-se para ouvir a verdade, que o liberta da ilusão. Pensou que Deus realmente precisava dele, já que era o único profeta que restava. Deus mostra delicadamente que, de facto, existem ainda 7000 que não se ajoelharam diante de Baal (1Rs 19,18). Livre das suas ilusões, Elias recebe de Deus uma nova missão, que será realizada pelo seu sucessor Eliseu, que recebe uma dupla porção do espírito de Elias (1Rs 19,19; 2Rs 2,11).


Deus faz uso de tudo, grande ou pequeno, bom ou mau, para desafiar o nosso modo normal de viver no mundo, assim como Elias foi desafiado a libertar-se das suas expectativas de como Deus deveria manifestar-se-lhe. Estas expectativas estavam profundamente enraízadas em Elias e as nossas expectativas e perspectivas estão profundamente implantadas em nós. Antes de podermos receber Deus como realmente é, devemos aprender a libertar-nos de tudo isso. É um processo doloroso, uma verdadeira noite escura, mas essencial para que possamos alcançar a luz do dia e estar preparados para o encontro com Deus. A tradição carmelita fala de uma jornada de transformação. Os factos da nossa vida não são sem sentido. No coração de cada acontecimento, Deus chama-nos a dar um passo em frente na nossa jornada e no nosso modo previsível de julgar as situações e as pessoas, incluindo a nós mesmos, para que possamos ver as coisas a partir da perspectiva de Deus. O fim da nossa jornada é a nossa total transformação, quando formos capazes de considerar tudo com os olhos de Deus, e a amar o que vemos com o coração de Deus. Precisamos de comer e beber para que a jornada não seja longa. Encontramos o alimento necessário para a nossa jornada na celebração diária da Eucaristia, meditando a Palavra de Deus, e na nossa tradição carmelita. 

Joseph Chalmers, O. Carm.

Caminhos Carmelitas

  • Perseverar na oração
    Embora Deus não atenda logo a sua necessidade ou pedido, nem por isso, (…) deixará de a socorrer no tempo oportuno, se não desanimar nem de pedir. São João da Cruz  
  • Correção fraterna
    Hoje o Evangelho fala-nos da correção fraterna (cf. Mt 18, 15-20), que é uma das expressões mais elevadas do amor, mas também uma das mais difíceis, porque não é fácil corrigir os outros.  Quando um...
  • O sacerdote
    Sou filha da Igreja. Oh! Quanto alegria me dão as orações do sacerdote! No sacerdote não vejo senão Deus. Não procuro a ciência do sacerdote, mas a virtude de Deus nele. Santa Maria de Jesus...
  • Onde estão dois ou três reunidos em meu nome, eu estou no meio deles
    Esta presença viva e real de Jesus é a que deve animar, guiar e sustentar as pequenas comunidades dos seus seguidores. É Jesus quem há-de alentar a sua oração, as suas celebrações, projectos e...
  • “Negue-se a si mesmo, tome a sua cruz e siga-me”
    «Negar-se a si mesmo» não significa de modo algum mortificar-se, castigar-se a si mesmo e, menos ainda, anular-se ou autodestruir-se. «Negar-se a si mesmo» é não viver pendente de si mesmo,...
  • A cruz de Jesus
    Se queremos esclarecer qual deve ser a atitude cristã, temos que entender bem em que consiste a cruz para o cristão, porque pode acontecer que a coloquemos onde Jesus nunca a colocou. Chamamos...

Santos Carmelitas