AS BEM-AVENTURANÇAS
Jesus proclama bem-aventurados os últimos da sociedade, porque são os primeiros destinatários do reino. Precisamente porque são pobres e necessitados, Deus no seu amor gratuito e misericordioso, vai ao seu encontro e chama-os a serem seus filhos, conferindo-lhes uma dignidade que nenhuma circunstância exterior pode anular ou diminuir, nem a indigência, nem a marginalização, nem a doença, nem o insucesso, nem a humilhação, nem a perseguição, nem qualquer outra adversidade. Os pobres, os que sofrem e os pecadores experimentam a sua fraqueza, de um modo agudo. Estão dispostos a deixar-se salvar por Deus. São levados a medir o valor da sua pessoa, não pelos bens exteriores, mas pelo amor que o Pai lhes tem. Porém, para fazer a experiência jubilosa d'Ele, devem abandonar-se ao seu amor, com humildade e confiança e, portanto, converter-se.
O próprio Jesus é pobre e perseguido, mas cheio de alegria, exulta no Espírito Santo e louva o Pai. Basta-lhe ser amado como Filho. É feliz por receber tudo do Pai e por nada ser sem Ele. A sua pobreza não se reduz a uma condição exterior. É acima de tudo, uma atitude espiritual, é humildade: “Aprendei de mim que sou manso e humilde de coração” (Mt 11, 29).
O reino é oferecido a todos, mas só atinge efectivamente quem, reconhecendo a sua insuficiência e a precariedade dos bens terrenos, espera a salvação unicamente de Deus e, com a sua graça, se torna justo, manso e misericordioso com os outros. As atitudes para acolher o reino encontram-se bem explícitas nas bem-aventuranças. Tendo presente a redacção do evangelista Mateus, aqui é apresentada uma redacção numa perspectiva catequética:
“Bem-aventurados os humildes que apenas confiam em Deus, porque para eles está reservado o seu reino. / Bem-aventurados aqueles que se afligem com o mal presente no mundo e em si próprios, porque Deus os consolará. / Bem-aventurados os mansos, aqueles que são acolhedores, cordiais, pacientes e renunciam a impor-se aos outros pela força, porque Deus lhes permitirá conquistar o mundo. / Bem-aventurados aqueles que desejam ardentemente a vontade de Deus para si e para os outros, porque Deus os saciará à sua mesa. / Bem-aventurados os misericordiosos, que sabem perdoar e realizar obras de caridade, porque Deus será misericordioso para com eles. / Bem-aventurados os puros de coração, que têm uma consciência recta, porque Deus os admitirá à sua presença na liturgia celeste. / Bem-aventurados aqueles que constroem uma convivência pacífica, justa e fraterna, porque Deus os acolherá como filhos. / Bem-aventurados os perseguidos por causa da nova justiça evangélica, porque Deus, rei justo, os salvará”.